Petrobras tem maior prêmio na venda de combustíveis em meses
Os baixos preços do petróleo devem garantir em dezembro os maiores prêmios desde janeiro para a divisão de Abastecimento da Petrobras na venda de combustíveis apontando para uma situação de lucratividade que tira do radar qualquer pressão para um reajuste de preços da gasolina e do diesel nos próximos meses.
Diferentemente do mercado internacional, que precifica os combustíveis com base na lei da oferta e demanda, a Petrobras fixa os preços dos combustíveis e evita transmitir volatilidade ao consumidor. Desde o início de novembro de 2014, a estatal reajustou os preços do diesel e da gasolina duas vezes, enquanto cotação do Brent caiu mais de 50 por cento no período.
Assim, a conjuntura de preços do petróleo em mínimas de sete anos atingidas nesta sexta-feira, diante de expectativas de uma manutenção do excedente no mercado global da commodity no próximo ano, vai contribuir para que a Petrobras permaneça vendendo gasolina e diesel às distribuidoras no Brasil por preços acima dos praticados no exterior, sem a necessidade de um reajuste, por vários meses entrando em 2016, segundo especialistas.
Dados de três analistas consultados pela Reuters apontam que os preços do diesel estão entre 39 e 31 por cento mais altos no Brasil ante o mercado internacional, dependendo da metodologia utilizada, enquanto as cotações da gasolina estão entre 25 e 22,7 por cento mais altas no país. Essa situação só não é melhor do que em janeiro, quando a diferença estava em aproximadamente 50 por cento, com um câmbio mais favorável na época o dólar está hoje a cerca de 3,90 reais, enquanto em janeiro oscilava em torno de 2,70 reais.
Com uma dívida de mais de 500 bilhões de reais, especialistas acham pouco provável que a Petrobras abra mão desse prêmio na venda de combustíveis, ainda mais porque o volume vendido neste ano registra queda acentuada no Brasil, em grande parte devido a fraqueza da economia brasileira, que enfrenta a maior recessão em décadas.
"A Petrobras não tem como reduzir esse prêmio", afirmou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, frisando que os preços mais altos são "fundamentais" para a empresa neste momento em que busca melhorias na rentabilidade.
A divisão de Abastecimento da companhia amargou prejuízos bilionários entre 2011 e 2014, quando manteve os preços internos mais baixos que no exterior, mesmo importando grandes volumes para atender a forte demanda interna registrada, com o governo tentando segurar a inflação.
Cálculos do CBIE apontam que a Petrobras deixou de ganhar 57,6 bilhões de reais, entre janeiro de 2011 e outubro de 2014, vendendo os combustíveis por preços abaixo do mercado global, sendo 17,2 bilhões com a gasolina e 40,4 bilhões com o diesel.
Apenas no fim do ano passado, com a queda vertiginosa dos preços do petróleo, a relação se inverteu, mas 2015 não foi o suficiente para que a Petrobras recuperasse perdas acumuladas, mesmo tendo vendido diesel com vantagem durante todo o ano.
Desde novembro de 2014 até outubro deste ano, o CBIE calculou ganho de 10,9 bilhões para a Petrobras com a diferença positiva entre os preços praticados pela empresa no mercado interno e os preços internacionais da gasolina e diesel.
Se por um lado a Petrobras registra ganhos fortes na divisão de Abastecimento com a conjuntura atual do petróleo, de outro enfrenta problemas na divisão de Exploração & Produção, uma vez que os preços baixos da commodity impactam na extração em áreas como o pré-sal, com custos mais elevados.
*Fonte: Exame